"Carta de Amor para daqui a 60 anos"

Esta é a minha CARTA. Ainda não sei muito bem sobre o que é que vou falar. Talvez vageuie por estas linhas e acabe por não dizer nada. Talvez diga TUDO. Mas se calhar tu já sabes TUDO o que eu tenho para te dizer. Então para quê estragar o que ambos sabemos com palavras que não dizem nada? Talvez porque eu queira que fique escrito TUDO o que já sabes e TUDO o que ainda não te disse. Para que daqui a 60 anos encontres um papel amarelo, roído pelas traças, escondido na tua mesa de cabeceira, por baixo do remédio para o reumatismo e atrás da caixa de lenços de papel e... simplesmente SORRIAS... Sorrias como fazes quando percebes TUDO aquilo que eu tenho para te dizer e não faço; sorrias como quando te beijo levemente nos lábios... O TEU SORRISO... Eu podia falar do teu sorriso... Mas um sorriso é algo mais do que palavras. Então de que é que eu posso falar que te faça SORRIR daqui a 60 anos? (...)
(...) Talvez puxando de um cantinho da tua memória turva e já senil de um velho cansado - mas feliz - de 80 anos, o dia em que nos conhecemos. Agora já sei que estás a SORRIR. Não preciso de te estar a ver para saber que estás a sorrir. E sei também que se te lembrares do que dissemos, vais SORRIR. E se eu te falar do nosso primeiro beijo, vais SORRIR. (...)
SORRI, quando pensares em TUDO o que descobrimos juntos, quando pensares em TUDO o que crescemos desde que nos conhecemos, em TUDO o que vivemos. Mas SORRI também quando pensares em tudo o que ficou por viver. SORRI SEMPRE. (...)
O TEU SORRISO... Tantas linhas e acabei por falar apenas do TEU SORRISO. E afinal, não disse nada. E tu ficaste aí a ler o que escrevi: TUDO o que já sabes e TUDO o que continuo sem te dizer. E SORRIS, porque sempre soubeste que eu nunca iria dizer mais do que já disse. Porque já não há mais para dizer quando SORRIS.
Acabaste de ler o papel amarelo e amarrotado pelo tempo, puseste-o dentro do envelope encardido e com cheiro a remédio para o reumatismo. Olhaste para a esquerda, mergulhaste nos lençóis e SORRISTE... E eu também SORRI...
Inês

1 comentários:

João disse...

Adorei este texto, um hino ao amor e consequentemente à vida! Uma vez o Rui Zink escreveu :"escrever é bom. Escrever as palavras. Escrever as coisas. Escrever o mundo. O mundo dentro de nós. E o mundo fora de nós." Escrever para nós permite transformar vivências que estejam condenadas à efemeridade de um dado momento em algo intemporal. Permite-nos recordar aqueles instantes especiais que muitas vezes nos esquecemos mas constituem um grande valor!
E depois a magia de um sorriso! Como gosto de dizer "um sorriso ou quiçá riso, ao invés do ouro, são o tesouro!". Um grande bem hajam:)

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